domingo, 16 de março de 2014

O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris

"Um trabalho de mestre. [...] Entre os contemporâneos, Harris é, muito simplesmente, o melhor autor da área do suspense."




Escrever a sua crítica sobre um clássico é uma das tarefas mais difíceis para qualquer crítico literário. É certo que as opiniões divergem, e o prazer da leitura não se mede pela qualidade do livro, mas pode ser difícil analisar uma obra cujo impacto é tão afirmativo e conjugá-lo com a ideia do leitor crítico.

Para ser honesto, não sei bem se deva olhar para O Silêncio dos Inocentes como um clássico do Cinema ou da Literatura. Afinal de contas, a sua marcante história e Hannibal Lecter, uma das personagens mais icónicas de sempre, foram criadas por Thomas Harris no seu livro, mas foi o aclamado filme (vencedor de 5 Óscares) que popularizou o famoso canibal e os seus jogos psicológicos.
E se tenho esta dúvida é porque talvez o livro não tenha tido em mim o impacto que esperava.

A história não podia ser melhor. Só por isso é preciso venerar o seu autor. Um esfolador de mulheres impossível de apanhar, uma estudante do FBI a querer mostrar o seu valor e um psiquiatra canibal assassino incrivelmente genial e capaz de resolver o mistério enquanto se diverte com os seus jogos psicológicos. Está destinado a ser o maior thriller de sempre.

Infelizmente, são enredo e personagens criadas por um autor que não se revela um escritor excepcionalmente dotado. É mesmo uma pena, e uma pequena desilusão, encontrar uma história tão boa, tão prometedora, mas que perde o brilho por causa do estilo de escrita. É uma escrita muito directa, demasiado directa, para o tipo de história. Não encontrei a fluidez que espero encontrar num thriller, aquelas palavras que me deixam a suar, aquelas frases que me fazem querer avançar de páginas. Avancei as páginas porque é uma história boa o suficiente para querermos ver como acaba, mas não é uma escrita que nos deixe agarrados a todas as palavras e que, aliás, nos faça esquecer que estamos sequer a ler. Faltaram palavras chave, faltou alguma descrição, faltou aprofundar mais os diálogos e as personagens para além da sugestão. E acredito que o filme é muito mais bem sucedido nessa missão.

Contei talvez dois capítulos e um parágrafo escritos de forma sublime. O resto do livro é uma narração demasiado regular.

Não obstante, a história em si e as personagens são verdadeiramente icónicas e não deixa de ser um livro que se lê facilmente em dois dias. Lecter não é uma personagem muito presente, mas o assassino principal é suficientemente fascinante e horrível para querermos seguir o seu rasto. Gostaria de ter visto mais acção psicológica e mais suspense, já que grande parte do livro parece resumir-se a uma luta de ambições, mas eventualmente a "caça" torna-se suficientemente excitante.

Uma sugestão: este é o segundo livro da trilogia dedicada a Hannibal Lecter, sendo o primeiro Dragão Vermelho e o último Hannibal. Aconselho vivamente começarem por ler Dragão Vermelho antes de O Silêncio dos Inocentes. De certa forma, senti falta de uma introdução à personagem de Lecter, que acredito foi feita no primeiro livro.


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