quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Os Filhos do Flagelo, de Filipe Faria

Allaryia, o mundo distante e fantástico, povoado de seres extraordinários, que ficámos a conhecer em A Manopla de Karasthan, abre-se de novo diante dos nossos olhos com a publicação do segundo volume das suas crónicas - Os Filhos do Flagelo. A demanda de Aewyre e dos seus companheiros prossegue, na tentativa de chegar a Asmodeon e levantar o véu de mistério de envolve o desaparecimento de Aezrel Thoryn, mas muitas são as adversidades que têm de enfrentar a caminho do seu destino. Separados, os companheiros mais que nunca dependem uns dos outros para sobreviverem às provações que se lhes depararão: Quenestil e Babaki, que partiram em busca de Slayra e dos seus captores, e o resto do grupo, que segue para as inóspitas estepes de Karatai em perseguição de Kror, o enigmático drahreg que partilha com o jovem Thoryn a Essência da Lâmina, um segredo milenar dos guerreiros de Allaryia. A saída de Ancalach, a Espada dos Reis, do reino de Ul-Thoryn, fez despertar de um longo torpor os Filhos da Sombra, começando a libertar a sua pérfida influência maligna. Insidiosamente, a coberto das sombras, nos obscuros espaços das trevas, o Mal vai estendendo os seus múltiplos e mortíferos tentáculos, antecipando o abraço letal, e tornando, a cada momento, mais visíveis os contornos tenebrosos das suas reais intenções. Há um perigo oculto do qual as gentes de Allaryia ainda não se aperceberam e Pearnon, o escriba, pressente-o sem o poder transmitir. A determinação e a força de armas de Aewyre e seus companheiros serão certamente postas à prova nos tempos vindouros...

Segundo volume daquela que é talvez a maior obra high fantasy portuguesa.
Quando li pela primeira vez o livro, lembro-me de ter adorado. Aliás, foi o meu preferido de toda a saga! Agora, numa leitura mais madura, mais atenta, não posso dizer o mesmo.

A diferença entre este e o primeiro livro é avassaladora. Aliás, tão avassaladora que custa a ler a primeira parte do livro logo após A Manopla de Karasthan.

O primeiro livro mal se preocupa com descrições, a acção desenrola-se a uma velocidade estonteante (um autor normal escreveria a mesma história com o dobro das páginas) e os elementos da história são introduzidos descuidadamente (desde personagens que aparecem do nada e sobre as quais nada sabemos, mas que fazem imediatamente parte do elenco de luxo, a imensos elementos do Mundo de Allaryia que nunca são explicados, simplesmente lá colocados como se fossem tão óbvios para nós como a gravidade).
 Já este segundo livro muda completamente o tipo de discurso. Pela primeira vez, o autor preocupa-se em dar um background às suas personagens. Parece que Filipe Faria começa a querer ir mais longe, a pintar com mais algumas camadas as suas personagens. Infelizmente, parece algo forçado e quase, quase tarde (mas mais vale tarde que nunca certo?). O ritmo é bastante, bastante mais lento, deixamos de ter uma aventura por página para termos uma aventura de cinco em cinco capítulos. E tal diferença... É um pouco confusa. Acho que o próprio autor teve de aprender a se adaptar a esse ritmo de escrita, e isso nota-se na primeira parte do livro. Tanto o leitor como o escritor estavam habituados a um ritmo muito acelerado e a primeira metade de Os Filhos do Flagelo tenta quebrar esse hábito, o que leva o seu tempo.

Segunda metade do livro: excelente. O escritor parece já absolutamente inserido na sua escrita mais trabalhada, é muito mais confortável de ler para o leitor e a história e as suas personagens começam a adquirir contornos bem mais sólidos.

Pessoalmente... Confesso que me tinha habituado bastante à ideia do primeiro livro: um grupo de amigos que, ao longo da sua viagem, se ia cruzando com mil e uma peripécias. Bom ou mal escrito, gostava do facto de o autor não parecer extremamente preocupado com a meta, preocupava-se mais com as pequenas aventuras que esta "irmandade" ia encontrando do que com o objectivo maior (chegar a Asmodeon, descobrir o destino do pai do protagonista). Parecia que o que importava era tudo aquilo com que eles se cruzavam na viagem, demorasse três ou dez livros a chegarem ao destino. Este segundo livro é precisamente o afastar desta ideia, as coisas tornam-se mais sérias. Apesar de mostrar mais maturidade, senti saudades da despreocupação do primeiro livro. Talvez gostasse de ler um "O Senhor dos Anéis" onde o objectivo do escritor não era destruir o Anel mas sim levar as personagens a percorrer a Terra Média em busca de aventuras. Sauron que esperasse. Asmodeon que esperasse.

Portanto, mais do que uma continuação, apesar de essa ser sempre a intenção, creio que este livro serviu sobretudo para o autor se adaptar a um novo ritmo de escrita, a um novo ritmo de acção, à ideia de que esta história não é uma simples brincadeira de escritor e deverá ter todo o potencial para se desenrolar numa série inteira. É um livro de transição entre um primeiro livro, visivelmente despreocupado, e um livro perfeitamente ciente de que faz parte de uma saga com princípio, meio e fim, que espero que seja o terceiro livro.

2 comentários:

Rui Bastos disse...

O terceiro ainda acentua mais essa ideia de amadurecimento e de "shit just got real"... Na releitura vais perceber bem isso!

Pedro disse...

É precisamente isso que espero do terceiro livro! "Os Filhos do Flagelo" ainda anda muito aí pelo meio, um pouco a tentar pôr-se no caminho certo, "Marés Negras" tem de ser um livro já na rota certa.

Infelizmente a leitura tem ido bastante lenta, mas o terceiro livro já me tem admirado bastante (a cena com Malagor deixou-me boquiaberto... Devia ter previsto, não costumo deixar-me enganar desta forma xD). Mal posso esperar para reler o resto do livro, porque já sabemos que vai ser o livro mais revelador e estrondoso!

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